É bom ganhar do Flamengo. É bom ganhar troféu. É bom ver um time com potencial em campo, e um técnico com sede de vitória no banco. Mas nada disso teria o mesmo sabor, para mim, se o Fluminense não tivesse voltado a ser o que aprendi a amar.
Há alguns poucos anos comecei a discutir a política no clube e a me interessar por assuntos bem mais amplos do que apenas o time da próxima temporada. Eu andava desanimada, chateada e infeliz com muitas coisas que vinham acontecendo. E eu não estou falando só de partidas de futebol.
Eu falo de ligar a televisão e me deparar, vez sim e outra também, com pseudojornalistas falando bobagens do meu tricolor. De ouvir meias verdades, de engolir falsas afirmações, e de ser indiretamente ferida por qualquer subcelebridade na TV. O Fluminense, através da figura dos seus líderes, era pacato e banana. O episódio da Portuguesa foi tão mal “gerenciado” pela nossa diretoria que viramos o clube mais achincalhado do Brasil. Pela mídia e pelos rivais. E sem ter culpa de nada. Simplesmente por seguirmos a regra. Que loucura é essa?
Chegamos a contratar um técnico que em sua primeira entrevista disse: “Por que eu aceitei trabalhar no Fluminense? Por dinheiro, óbvio.”.
Isso é inaceitável, para mim. E ainda sim, na época, eu achei normal. Porque eu me encontrava quase hipnotizada por um clube que praticamente estava satisfeito com seu medíocre papel de ser mais um. O importante era conseguir levar aquele ano. E depois o outro. E mais outro. Éramos uma peça do jogo. Coadjuvantes.
Mas se tem uma coisa que me fez escolher o Fluminense, é o contrário disso. Somos pioneiros, inventores e líderes. DE TUDO. Se a gente surgir com um jeito novo de jogar futebol, todos irão nos imitar. É assim que conta a história. O Fluminense, ganhando ou perdendo, nas horas boas ou ruins, será seguido. Será exemplo. Será diferente.
Essa é a nossa marca e esquecermos disso é esquecermos nossa raiz.
Nessa semana do FlaxFlu eu vi o Fluminense voltar a ser o Fluminense. O clube que não liga se a outra torcida vai lotar o estádio ou não, entra para ganhar de qualquer forma. Que não tem medo de ninguém. Que é protagonista.
“O Flamengo nunca mandaria advogado com a finalidade da torcida rival poder ir ao estádio.” Claro que não. Por isso eles são o Flamengo. E por isso nós somos o Fluminense.
Por isso, um dia, alguém saiu das Laranjeiras disposto a montar um time de futebol naquele clube de regatas. Porque certamente ficou insatisfeito com a nossa conduta exemplar e inabalável. A partir disso, que fiquem eles de lá, e nós daqui. E sempre teremos uma torcida em menor número. Porque os que dificilmente se deixam levar pela vitória fácil são poucos. Poucos e bons. Poucos, bons e tricolores.
Os novos nomes que hoje comandam a cúpula nas Laranjeiras parecem saber essa diferença. Entendem a importância de agirmos como um clube gigante em todos os momentos. De lutarmos por um futebol mais justo e correto, e de cobrarmos na justiça por cada palavra que possa nos denegrir, vinda de pessoas públicas irresponsáveis. Eles têm a consciência de que não precisamos ter ódio de nenhum rival, que eles precisam existir para que nossas vitórias sejam ainda maiores.
Hoje, a mesma imprensa que ontem nos acusava de time de advogado, exalta nossa conduta.
Eu não sei quantos troféus levaremos para Álvaro Chaves em 2017, mas já posso dizer que o ano foi revolucionário. Resgatamos a essência de sermos o Fluminense.